Sabrina Camargo Psicologia e Psicanálise

Membro Campo Psicanalítico Salvador (BA). Atendimento clínico psicanalítico para todas as idades (bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos), desde 2004.

Percurso inicial de formação na abordagem sensório-motora de Andre Bullinger.

Consultoria, palestras e avaliações psicológicas em seleção de pessoal para empresas, comércios e afins.

Consultoria e palestras em escolas.

(77) 99925-2198

Início: Bem-vindo

Ultimo dia de aula da pós em Medicina e Psicanálise com bebês e já sinto aquela nostalgia. Foram 2 anos de intenso trabalho. Aulas aos sábados, das 8 às 18h. 3 filhos. E muitas demandas. Não recuei. Foi um curso que me abriu portas, me trouxe amizades, me fez estudar mais psicanálise e a perceber, cada vez mais, os efeitos desta prática não só nas crianças mais velhas, adolescentes e adultos, como já sabemos desde Freud, mas nos bebês. Agradeço a @liabatista.psy pela coordenação e pela generosidade em compartilhar seus conhecimentos, a @kelly_marquespsi nossa monitora e aos demais colegas que fiz, alguns dos quais posso chamar de amigos. Seguimos em frente com aquilo que nos move, escutar o outro, independente de sua idade, para que ele encontre meios de viver neste mundo, apesar das contingências da vida.

Na última terça, estive no @castelinhodaensf , conversando com as famílias de crianças da educação infantil sobre a relação pais e filhos nos dias atuais, emoções, afetividade e limites. Meus agradecimentos especiais a Conceição e toda equipe do @castelinhodaensf pelo convite e pela oportunidade de levar meus conhecimentos e trocar com pais e mães tão atentos e participativos.

Em psicanálise, falamos de mãe enquanto função. Função acolhedora, protetora, interpretativa e atributiva. Sem a presença de alguém no exercício desta função, um bebê humano sobrevive poucas horas. É imprescindível um outro, disponível, devotado que assegure e garanta sua existência. É o primeiro elo de amor, o primeiro vínculo do ser, que respingará por toda a vida nas muitas relações que virão.

Uma mãe cobre e alimenta seu filho de palavras, de desejos, de planos futuros. É nele que ela deposita seus sonhos, suas expectativas e também com ele precisa lidar quando suas fantasias nem sempre são correspondidas (ainda bem!).

Uma mãe precisa ser “suficientemente boa”, na justa medida, sem excessos, nem carências (dose difícil de alcançar) e, aos poucos, “desnecessária” sabendo dar asas e deixar voar!

Não é fácil ser mãe, talvez o maior desafio da vida, doar, dar-se, sacrificar seus anseios, se colocar em segundo plano, ato maior de despreendimento egoíco e resignação.

Feliz dia das mães!

Imagem: Gustav Klimt. Three ages of woman .(1905).

Palavras silenciadas, privadas de liberdade, inibidas por preconceitos, violências e rótulos morais. Dar voz ao silêncio e ao grito engasgado é o que cabe a nós, mulheres, fazermos umas pelas outras.

O que sabemos do mundo é através da leitura tendenciosa de obras escritas por homens que até pouco tempo dominaram a cultura e a ciência.

A todo momento, direitos conquistados estão em risco. Não é preciso ir muito longe para ouvirmos sobre feminicídios, mutilações, crimes de honra, infanticídios femininos. As mulheres continuam cerceadas dos direitos mais essenciais.

Resgatar as histórias que não estão na história, extraviadas e esquecidas é um dever nosso!

🌹8 de março. Dia Internacional da Mulher!

Imagem: Auto retrato de Constance Mayer. Exposto no Museu de Luxemburgo, em Paris, na exposição Mulheres Pintoras - nascimento de um combate (1780-1830).

A pergunta que eu mais recebo seja aqui pelo Instagram, seja pelo Podcast é sobre a formação em psicanálise. Aproveito então este espaço para falar um pouco mais sobre isso.

A psicanálise está presente nos cursos lato e stricto senso das universidades. Há especializações, mestrados e doutorados em Teoria e Clínica Psicanalítica.

Aqui mesmo pelo Instagram vemos uma oferta imensa de cursos breves propagandeando a psicanálise.

Mas nada disso forma um psicanalista. Hoje em dia todo mundo se diz psicanalista. Seja porque fez uma especialização, um curso de fim de semana ou porque leu algum comentador de Freud, sequer a fonte.

A formação em psicanálise se dá numa instituição de psicanálise reconhecida por sua ética e seriedade. Seguimos um tripé desde Freud, estudo teórico, análise pessoal e supervisão. É uma formação que não tem diploma, não se conclui. Autorizar-se psicanalista é fruto deste longo percurso, de anos de formação e trocas entre colegas.

O Campo Psicanalítico Salvador, instituição da qual faço parte como Membro, reconhecida pelo seu rigor teórico e ético, está com as inscrições abertas para quem deseja iniciar ou continuar a formação em psicanálise (presencial em Salvador ou online), a partir da orientação de Freud e Lacan.

Recomendo fortemente!!! @campopsicanalitico

#psicanalise
#campopsicanaliticosalvador
#freud
#lacan

Eu estava conversando com uma prima, professora de uma importante escola na cidade onde ela trabalha.

O tema era a respeito de um vídeo que circulou nas redes sociais em que um médico renomado critica o excesso de diagnósticos psiquiátricos na infância e adolescência. Segundo ele, o exercício de uma parentalidade pouco comprometida, fragilidade nos vínculos, excesso de telas, carência da natureza e de vida ao ar livre estão por detrás de muitos comportamentos marcados com o selo do diagnóstico, embora saibamos que patologias infanto juvenis existem, mas não nesta intensidade.

Além disso, o médico fala da dificuldade que o excesso de diagnósticos impõe às escolas, uma série de laudos ditando aos professores e coordenação como agir com as crianças. Laudos estes, muitas vezes, produzidos por profissionais mal qualificados, mas sucesso nas mídias do Instagram e Tik Tok.

Em tudo isso, ele tem razão, mas eu gostaria de complementar.

A escola colhe as consequências daquilo que ela também causa. Excesso de disciplinas, de atividades, avaliações semanais, aulas em dois turnos, eventos intermináveis, demandas e exigências infinitas e, muitas vezes, descontextualizadas que beiram o insuportável.

Se fragilidade e indiferença nos vínculos, se excesso de telas, se falta de natureza adoecem, sabemos também que a escola com as práticas pedagógicas atuais adoecem.

A escola sofre as consequências do excesso de diagnósticos, mas tem sua parcela importante na produção deles ao estimular a competitividade, o resultado, o marketing, ao produzir pressão, ao demandar em demasia, ao não se contextualizar no mundo e ao impedir que crianças e adolescentes tenham tempo para viver como crianças e adolescentes.

Imagem: Ivan Cruz. Rio de Janeiro.

#infancia
#brincarlivre
#tempo
#movimento

Em 1900, Freud sacudiu as bases científicas de sua época com a obra “A interpretação dos sonhos”. Junto com os chistes, os atos falhos e os equívocos, ele elevou o sonho a categoria de manifestações do inconsciente e mostrou que o EU não é senhor em sua própria casa.

Isto quer dizer que, para todo sujeito, há um funcionamento inconsciente em atividade, mesmo à sua revelia. Há algo que não controlamos pela nossa consciência.

O sonho é uma manifestação do nosso desejo. Ele só deve ser apreendido no caso a caso e, o conteúdo manifesto, ou seja, a cena do sonho e aquilo que nos lembramos, não deve ser lido na literalidade, há um conteúdo oculto por detrás disso. O conteúdo inconsciente que aparece no sonho precisa submeter-se a deformações para passar pelo processo de censura do EU.

A interpretação do sonho não se encontra nos livros de significado dos sonhos. Não há uma única interpretação para todos. A interpretação é sempre daquele que sonha.

O sonho, na atualidade, é visto como algo ameaçador pelo sonhador. Escuto com frequência, “estou com uma sonhação”, como se fosse algo ruim.

Do contrário, o sonho mostra uma atividade psíquica em jogo, um inconsciente a todo vapor. Se interessar pelo sonho é despertar para a vida que se leva e para o que se passa dentro de si.

#psicanalise
#freud
#lacan

O brincar é o modo privilegiado de expressão infantil. O lugar do brincar, na atualidade, é objeto de reflexão em meio ao consumo desvairado e ao incentivo à adultização.

É difícil imaginar a aventura que é tornar-se capaz de brincar. A criança que percorre um bom caminho de estruturação psíquica, brinca o tempo todo, desde sempre. O bebê que vai bem psiquicamente, brinca primeiro com seu corpo, depois com o outro e com o que encontra como objeto, independente de sua funcionalidade.

É na brincadeira, demonstração maior da atividade simbólica, que a criança assume papel ativo e reproduz tudo aquilo que vive e a impressiona.

Se o brincar na escola ou em ambientes terapêuticos é desacreditado e visto como algo de pouca importância, o perigo está quando a criança não brinca ou não pode brincar.

Anular a infância incentivando à juvenilização ou através de estímulos ao brincar pedagógico priorizando única e exclusivamente a cognição e a performance é o maior mal que se pode fazer a infância e a uma criança.

Nos tempos atuais em que assistimos a pobreza do universo simbólico, o excesso de artefatos eletrônicos, o esvaziamento da criatividade e do imaginário, que possamos oferecer às nossas crianças afeto, tempo, espaço, natureza e liberdade no brincar resgatando o prazer, a fantasia e a ludicidade perdida para experienciar o mundo! Feliz dia das crianças!

Frase: Louise Glück, prêmio nobel de literatura 2020.

Cresci assistindo Silvio Santos. Sonhava em participar da porta da esperança e girar a roleta. Brinquei tentando adivinhar qual era a música e as respostas do show do milhão.

Silvio Santos entrou em nossas casas sem pedir licença e nos cativou com sua humildade e sua voz inesquecível. Aguardar por ele todo domingo era como esperar um familiar que combinava de nos fazer uma visita.

Ele sai de cena para inscrever seu nome na história. A força da linguagem sobre a vida eterniza!

Não haverá outro como ele. Por isso, sua partida nos deixa com esta sensação de desamparo, como se de alguma forma ficássemos um pouco orfãos.

#silviosantos

O exercício da função paterna não é tarefa fácil. Como função legisladora, ela é a marca do limite e do não para uma criança. Ao fazer isso, por sua vez, ela abre uma janela, de um mundo para além da dualidade mãe-filho.

O pai, em psicanálise, não precisa ser o genitor, tampouco o provedor ou alguém do sexo masculino. O pai é aquele que promove a inscrição da falta, da incompletude e, a partir daí, do surgimento do desejo, mola propulsora da vida!

Feliz dia dos pais aos que estão no exercício diário desta preciosa função.

#diadospais #psicanalise #freud #lacan

Imagem: Pai e filho. Murad Jawed. India (2017).

Repenso a vida a cada situação dramática vivenciada.

A pequenez do ser humano diante da força da natureza e das contingências do existir.

A constatação da falta de controle em meio aos acontecimentos.

Nos desestabilizamos com situações tão insignificantes, damos mais valor ao descartável, desperdiçamos tempo na ansia inesgotável por bens materiais.

Constatar que tudo isso pode ruir em fração de segundos é uma oportunidade de viver diferente e de questionar o que de fato precisamos valorizar.

A situação ocorrida no sul do Brasil me sensibilizou bastante. Informações dão conta de muitos corpos de bebês boiando sobre as águas e uma centena de crianças e adolescentes perambulando pelas ruas à procura dos seus pais.

Impossível não fazer um texto em homenagem às mães sem pensar nestas que perderam seus filhos e vivem esta dor irreparável.

Se um filho quando perde os pais fica orfão, não há palavra possível que nomeie a dor da perda de um filho.

Saber que a vida é um sopro e o tempo é fugaz pode nos ajudar a repensar o quanto nos doamos às nossas crianças e adolescentes, como estão assentados os nossos vínculos, a qualidade de nossas interações e o que realmente importa nesta vida. O tempo que temos é o que vivemos neste instante.

Um Feliz Dia das Mães!

Imagem: Mary Stevenson Cassatt. Estados Unidos. 1890.

Deixando registrado aqui no feed, as fotos deste curso maravilhoso que aconteceu em Caxias do Sul/RS durante uma semana. Estudamos a Abordagem Sensório-Motora do suiço André Bullinger com a querida Dra. Raquel Cassel.

Uma terapêutica que contempla o corpo e como se estabelece sua construção ao longo do desenvolvimento. Uma abordagem que conversa com a psicanálise e que pode ser trabalhada em pessoas de todas as idades.

Saio renovada com todo aprendizado obtido, pelas trocas com colegas de diversas especialidades da área da saúde e feliz de levar para minha cidade uma prática que pode ajudar àqueles que sofrem com um corpo que encontra entraves no seu percurso de estruturação, seja por questões de ordem neurológica e/ou por questões de ordem psíquica e emocional.

Falarei mais da abordagem Sensório-Motora no PodCast Atelier de Psicanálise.

#psicanalise #freud #lacan #sensoriomotricidade #andrebullinger #brumado #vitoriadaconquista #guanambi

Apesar de falar bastante sobre a infância, atualmente a minha prática clínica maior é com o público feminino.

Histórias de amor, de separação, de violência, de maternidade, de filiação, de solidão é o que ecoam, diariamente, as paredes do meu consultório.

Mulheres que se confrontam com seus amores e dissabores, alegrias, decepções, medos e dores… enquanto reescrevem, linha a linha, as suas narrativas de vida.

Nenhum rótulo recobre uma mulher. A história nos mostra isso. Uma mulher questionadora incomoda. Uma mulher ousada também. O desejo de uma mulher assusta pelo caráter enigmático, é visto como perigoso, sem rumo e ilimitado.

Uma mulher tem dificuldade de encontrar apoio em outra. Se relacionam muito mais como rivais do que como alguém que podem se dar as mãos.

Mulheres deveriam fazer redes de suporte. Deveriam formar aldeias. Uma mulher sozinha já promove muitas mudanças, um coletivo então… transforma o mundo!

A união faz a força e faz diferença!

08/03, Dia Internacional da Mulher!

Imagem: Hamish Blakely. Canterbury.

#diadamulher
#psicanálise

Estou sumida deste espaço por motivo de muito trabalho. Iniciei o ano com muitas ideias e projetos. A primeira e que eu gostaria de divulgar hoje é a comunicação de conteúdos através de Podcasts. Sou amadora neste desafio, faço tudo sozinha, mas estou animada com esta ferramenta de comunicação.

Começo pelo início de tudo, a constituição psíquica e a cliníca com bebês e como sua construção pode influenciar na formação da subjetividade.

Pretendo falar sobre muitos outros temas pertinentes a infância, adolescência e vida adulta, de modo acessível, consistente e através de episódios curtos.

O ritmo dos episódios será o da inspiração.

Espero que gostem, divulguem e sugiram assuntos de interesse!

Eu simplesmente fui tão tocada com a escrita sensível e comovente de Fabien Toulmé (@fabientoulme), que não consigo mais me afastar de sua obra literária. E nesta semana nostálgica de finados, um dos seus livros não sai da minha cabeça: Duas Vidas!

O que você faria se soubesse que teria pouco tempo de vida?

Duas Vidas conta a história dos irmãos Luc e Baudouin e o que a descoberta de uma doença incurável promove na vida de cada um deles.

A morte é a certeza mais incerta da vida. Certeza de que todos nós viveremos este dia, na incerteza de quando será.

A vida é muito breve… e porque insistimos viver uma vida que não nos agrada? Porque deixamos as sonhadas mudanças para depois?

O dia 02/11 é sempre uma data de reflexão e saudade pelos que se foram, mas de angústia quando nos lembramos que também estamos na fila. Por mais que nossos esforços sejam de matar a morte (submetendo-se aos mais diversos procedimentos de prolongamento da longevidade), ela é inevitável. Saber a sua posição na fila mudaria os rumos da sua vida? Você faria algo diferente?

Finalizo com um trecho do livro: “Temos duas vidas e a segunda começa quando nos damos conta de que só temos uma…”!

#fabientoulmé
#psicanalise
#finitude

A infância hoje…

Está cada vez mais abreviada. Cada vez mais digitalizada. Com agendas cada vez mais cheias. Com aprendizagem cada vez mais conteudista. Em espaços cada vez mais fechados, concretados e descoloridos. Com um brincar cada vez mais pedagógico e dirigido. Com movimentos cada vez mais contidos e silenciados. É a infância dos excessos, mas também de muitas carências! É a infância medicalizada, a infância dos relatórios e protocolos, a infância das siglas e dos CIDS, TDAH, TOD, TC, TND…

O que as crianças precisam?

Para além das necessidades básicas asseguradas e supridas…

De tempo para brincar e imaginar. De tédio para criar. De aprendizagem instigante e que promova abertura ao mundo. De espaços abertos e verdes onde possam se movimentar com liberdade. De outras crianças para compartilhar. Que possam expressar suas emoções e encontrar um colo responsável, compreensivo e afetuoso. Estes são os alimentos vitais da infância: amor, natureza, ar livre, tempo e espaço!

Sem estes alimentos continuaremos a produzir infâncias adoecidas e medicalizadas e procurar, em vão, na genética, na bioquímica, na neurologia a causa de tantos transtornos sem perceber que, na realidade, sua origem está no modo como se enlaça e funciona a sociedade atual.

Uma mudança de olhar para a infância é urgente e necessária!

Imagem: Ivan Cruz. Brincadeiras de Criança.

#infancia
#crianca
#psicanalise

Quando eu me deparei com o vídeo do post anterior, um livro aguardava na minha mesa de cabeceira para ser lido. Foi ao acaso, no Instagram, que tive acesso à obra e ao trabalho do autor que eu desconhecia até então.

Durante mais de 5 anos fiquei imersa na formação em Perinatalidade e Parentalidade do Instituto Gerar. Gestação, nascimento, patologias genéticas, atrasos do neuro desenvolvimento fizeram e ainda fazem parte dos meus estudos porque a origem e a constituição psíquica me interessam profundamente.

E foi lá que ouvi uma frase que fez muito sentido para mim: “Todos nós precisamos ser adotados”.

Adotar uma criança é aceitar alguém como filho. Vocês acham que só adotam quem passa pelo processo de adoção junto à justiça?

Mesmo os genitores precisam adotar seus bebês. É um mito dizer que quando nasce um bebê nasce uma mãe e um pai. A maternidade/paternidade é uma construção atravessada por muitos temores e fantasias inconscientes.

Reconhecer o bebê como seu bebê é fruto de um enorme trabalho psíquico. Confrontar-se com um novo ser ao nascer, deparar-se com alguém que pode ser diferente do ideal imaginado pode trazer alguns entraves. O que você realmente espera quando está esperando 🤰🏻?

Num só fôlego fiquei encantada com Fabien Toulmé @fabientoulme e seu livro autobiográfico “Não era você que eu esperava“. Tocante, comovente, profundo, mostra exatamente este processo de adotar um filho mesmo quando os pais são os genitores. Como este processo pode se intensificar quando o bebê possui alguma síndrome. E do esforço necessário em conseguir enxergar uma criança para além de sua patologia ou condição. Recomendo!

#maternidade
#psicanalise
#fabientoulmé
#naoeravocequeeuesperava

Contrariando o que muitos pensam, diagnóstico não é destino. E uma família implicada faz toda diferença no desenvolvimento da criança. Assistam, é emocionante!!!

@marcelloomeninim

#sindromededown
#sindromesgeneticas
#transtornosdeneurodesenvolvimento

Obs: este vídeo tem circulado nas redes sociais.

Nos últimos dias de setembro, recebemos com pesar a notícia do suicídio da campeã olímpica de vôlei, Walewska Oliveira.

É também neste mesmo mês que campanhas de informação sobre o suicídio circulam nas redes, no chamado Setembro Amarelo.

Familiares dizem que Walewska tinha planos. Estava divulgando uma biografia, participando de uma série de eventos, lançando uma linha de chocolates.

O que de repente interrompe estes planos? O que ela pensava enquanto tomava o vinho que deixa sobre a mesa?

O marido, em estado de choque, relata à polícia que o casal estava em processo de separação. O que Walewska não suporta? O que ela perde quando o casamento chega ao fim?

Respostas que jamais teremos, mas sua história choca exatamente porque não se tratava de alguém fracassado profissionalmente, não parecia uma pessoa sem perspectivas.

Damos pouco valor à saúde psíquica. Bebês sofrem, crianças sofrem, adolescentes sofrem, adultos sofrem, idosos sofrem.
Acreditamos que cuidar da saúde psíquica é intoxicarmos de remédios. Remédios para dormir, para acordar, para estudar, para trabalhar, para se relacionar.

A fala é cada vez mais silenciada, as emoções menos expressadas, o mundo simbólico mais empobrecido porque vivemos na sociedade das imagens onde o imaginário povoa, o narcisismo impera e parece brilhar quem aparece mais. O psiquismo sofre neste contexto e um dia a conta chega.

Cuidar da saúde mental não é opção, é condição para a vida seguir, para a vida fluir. É a chance de sair do estupor para o despertar, de elaborar o que ficou para trás, de buscar aquilo que te faz vibrar e se entusiasmar na vida.

Neste Setembro Amarelo, popularize a Psicologia, desmistifique os preconceitos que giram em torno desta terapêutica, se permita mergulhar em si e sugira aos que estão ao seu redor. Cuidar da saúde mental é abrir novos caminhos e possibilidades para a vida, mesmo quando ela parece tão dura e difícil.

Imagem da internet.

#setembroamarelo
#psicanalise

O que eu aprendo na clínica com bebês:

- No primeiro ano de vida do bebê (principalmente os primeiros 6 meses), o cérebro é extremamente permeável à intervenção, chamamos isso de plasticidade cerebral.

- Seguindo o ditado de que ”cada criança tem seu tempo”, perdemos uma importante janela de intervenção.

- O trabalho com bebês em risco envolve equipe interdisciplinar, de preferência com psicólogos, profissionais da osteopatia e sensorio-motricidade.

- Bebês em risco geralmente sentem dor, os movimentos do corpo são pobres, pouco fluídos e harmoniosos, eles também possuem uma dificuldade de filtro, são hipersensíveis e tem excesso de empatia emocional.

- Bebês em retraimento relacional se agarram à dor intensa (ou sentem ou tem medo de sentí-la).

- Dificuldades posturais comprometem o sistema visuo-motor. Portanto, é preciso que haja um trabalho de reagrupamento do corpo, é necessário reforçar construções de pontos de apoio do corpo. O que chamamos de diálogo tônico-emocional (Bullinger, Andre - Suiça).

- Um cérebro se constitui a partir da relação que o bebê estabelece com o outro. A fala nasce a partir e na interação.

- Como a interação é uma via de mão dupla, um bebê fechado em seu sofrimento não se engaja e dificulta as tentativas de aproximação e contato parental.

- O engajamento do olhar requer um trabalho neurofisiológico psíquico complexo (Haag, Geneviève - França).

- O trabalho com bebês exige estudo, experiência e treinamento contínuos.

- Uma super estimulação (regulation up) pode inibir o bebê, promovendo mais fechamento que abertura.

- É imperativo que profissionais de saúde, em especial, os que que lidam com bebês, estejam sensíveis em perceber que há sofrimento na primeiríssima Infância. Tudo que compete ao olhar, a oralidade e a presença ou ausência de engajamento nas trocas com o outro são importantes bússolas de avaliação.

- Lembremos sempre que por detrás de um diagnóstico, é necessário enxergar um bebê com saberes e potencialidades. Colarmos a um diagnóstico fecha caminhos e compromete destinos.

- Diagnóstico NÃO é prognóstico.

Imagem: Bebe y madre. Vicente Romero. Espanha.

#bebes
#psicanalise

A entrevista com a atriz Larissa Manoela é um dos assuntos mais comentados deste início de semana.

Não acompanho o trabalho da atriz. Sei o que foi divulgado pela mídia. Que ela trabalha desde pequena, que seus pais administravam sua carreira e lhe repassavam uma mesada ínfima diante das cifras que ganha.

Longe de querer opinar sobre a vida da família em questão, este assunto me levou a um texto de Freud, um clássico, publicado em 1905, ‘Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade’.

No 3° ensaio, intitulado ’As Transformações da Puberdade’, Freud fala desta etapa tão delicada da vida, a adolescência, e do quão ela é difícil para o jovem, mas também para os seus pais.

Mecanismos de defesa do psiquismo recalcam nos adultos muitas lembranças desta época. Motivo pelo qual, temos a tendência a desvalorizar o sofrimento adolescente, a achar que é exagero e que não passa de uma “tempestade em copo d‘água”.

A adolescência é a última etapa da constituição subjetiva. E esta se conclui a custa de muito trabalho psíquico. Crescer não é sem sofrimento. Para os filhos e para os pais, porque confronta os últimos ao envelhecimento e perda de força e prestígio.

Freud nos diz no texto anteriormente citado, que “uma das realizações psíquicas mais significativas, porém também mais dolorosas do período da adolescência, é o desligamento da autoridade dos pais”.

Um dia, mais cedo ou mais tarde, chega o momento da cria sair do ninho, bater asas e voar. E cabe ao pais, confiarem naquilo que transmitiram ao longo dos anos, se recordarem de seu próprio adolescer e deixarem o filho partir. Se raízes foram fincadas, a despedida não será definitiva, um filho sempre retorna ao lar, mesmo que de outra forma.

Desfazer a imagem idealizada de pais e filhos não será sem embates e dor, ainda que seja necessária.

Imagem: Angeles. Adolescencia. Espanha.

#psicanálise
#adolescencia
#freud
#larissamanoela

Em Psicanálise, um pai vai além de um ser de carne e osso. Entendemos a função paterna como uma operação psíquica essencial para a constituição subjetiva.

A sua presença na vida de um filho marca uma descontinuidade, uma diferença em relação à função da mãe.

Enquanto esta deseja o filho sempre por perto, por debaixo de suas asas, um pai inaugura um caminho rumo ao mundo, ao desconhecido. É aquele que encoraja o filho a alçar vôos maiores, a ampliar suas fronteiras.

A função paterna pode ser exercida pelo genitor, pelo pai adotivo, por pessoas diversas e mesmo pela mãe.

Independente da genética e da anatomia, um pai é aquele que cada filho escolhe como seu!

Imagem: D. Rodgers, 2013.

#diadospais
#psicanálise

Esta semana, eu mencionei nos stories sobre uma das queixas mais frequentes que aparece no consultório: a recusa da criança em ir à escola. Como é a clínica que nos convoca ao estudo, este é um assunto que tenho debruçado com muito interesse.

Dos stories, uma série de comentários surgiu: de pais, estudantes e mesmo funcionários de escola atestando esta realidade.

A organização mundial de saúde tem alertado para o aumento do uso de medicamentos psiquiátricos em crianças e adolescentes. Isto gera uma dúvida: será que ocorre um uso indiscriminado de medicações ou este público está mesmo em sofrimento?

Por que crianças e jovens não desejam mais estarem na escola? Se a escola é local de conhecimento, aprendizado e socialização, o que as crianças recusam ao recusarem frequentar este local?

Hoje, 11 de agosto, é o Dia do Estudante! E, precisamos rever com urgência, as práticas educativas em voga na atualidade. Práticas de excesso, padronizadas, alienantes e comparativas. Não há espaço para a criatividade, para a inovação. A linguagem precisa ser uma só. Ignora que uma criança e um adolescente possam expressar através de muitas linguagens. Não cabe outro tipo de expressão que não seja o padrão. Nesta toada, subjetividade e singularidade são abolidas.

É preciso resistir contra um sistema escolar rígido, lutar contra os estigmas que nascem desta prática, repensar o que é qualidade de ensino. É o índice de aprovação nas avaliações nacionais ou saber lidar com os impasses da vida através do desenvolvimento de habilidades socioemocionais?

Eu desejo que o estudante de hoje possa caminhar em direção ao saber, este saber que leva rumo ao desconhecido, sem fronteiras, à produção de conhecimento, que amplie sua visão de mundo, que o permita tecer muitas relações e, encontrar aí um sentido, para além de desempenho, resultado e eficiência, unicamente valorizados em nossos dias.

Imagem: Menina Estudando. José Júlio de Sousa Pinto. Portugal.

Neste último domingo de outono, recebo a notícia do falecimento da querida Vanilda Meira. Dona Van, como era carinhosamente chamada, foi minha professora de História da 5ª a 8ª série.

30 anos depois, guardo boas lembranças de suas aulas! Desde criança, a história do mundo sempre me despertou fascínio. Sempre me interessei pelo passado para poder entender a construção do mundo atual. Adorava saber das transformações pelas quais o mundo, seus habitantes passaram ao longo dos séculos.

Não à toa que, anos depois, desembarquei na França, país de tradição secular.

A história precisa ser contada, narrada, escrita para ser elaborada e ressignificada. E, certamente, as aulas de Dona Van, que jamais esqueci, participaram de algum modo da minha escolha profissional, pois no meu dia-a-dia o que mais faço é escutar histórias. É ser testemunha dos acontecimentos narrados pelo outro para que sejam ressignificados, para encontrarem um lugar na história de cada um recompondo assim os fragmentos perdidos.

Hoje, sou “escutadora” de outras histórias. Mas, não me esquecerei da História transmitida por Dona Van, do seu abraço afetuoso, dos geladinhos e da sua passagem pela minha história.

Imagem da internet.

Neste Dia das Mães, eu poderia escrever sobre muitas delas. Sobre aquelas que estão longe dos seus filhos. Sobre as que sofrem por um filho doente. Sobre as que os perderam. Sobre as que tiveram suas vidas interrompidas. Sobre aquelas mulheres que querem ser mãe e não conseguem. Sobre as que pariram e abandonaram o bebê. Sobre as que sofreram violência ou foram violentas.

A maternidade é algo extremamente singular. Um dos maiores desafios da vida. É o exercício de uma função que não se encontra nos livros e não se aprende na escola. Mesmo que você tenha uma fonte de inspiração, não é possível copiá-la e não é reproduzível, ainda que haja outros filhos. Com cada um será um exercício diferente.

Mãe é sinônimo de renúncia. Quantas vezes suas vontades não ficam em segundo plano? É também preciso perceber-se desnecessária pois, à medida que o tempo passa, o filho pede menos da mãe.

Uma vez mãe, seu sono jamais será o mesmo. Um olhar diferente do filho, um suspiro fora de compasso desestabiliza a mãe que, se pudesse, congelaria o tempo para que suas intempéries não respingassem no filho.

Mãe é aquela que dá vida ao filho, não no sentido biológico, mas de encaminhá-lo ao mundo. E, se preciso for, ela também morre por ele!

A maternidade muitas vezes sufoca mas, uma vez por ela fisgada, não há mais como se desvencilhar.

Um Feliz Dia das Mães a todos que estão no exercício desta função!

#diadasmaes

Imagem: A mãe e o filho. Gustav Klimt. Áustria. 1905.

Ao longo da semana, em diversos momentos, fui interpelada por pais de pacientes e mesmo pessoas do meu círculo social a respeito da violência nas escolas. Transborda nos grupos de WhatsApp medo, angústia e terror.

Propostas de vigilância armada, policiamento ostensivo, monitoramento 24h, cercas elétricas, utilização de detectores de metais aparecem nas conversas entre famílias.

A violência é um produto da civilização. O que muda, em cada época, é a maneira como a pulsão de morte se apresenta em cada sociedade. Se pararmos para observar, na nossa contemporaneidade, a violência está em todo lugar: na televisão, nos jogos de video game, na música e no cinema. Consumimos violência o tempo todo.

É preciso estarmos atentos às formas como uma sociedade vive a pulsão e suas manifestações.

O tratamento para a violência precisa passar pelo suporte dos dispositivos legais e de proteção social, mas não somente. É indispensável o diálogo em casa. Aos pais cabem atenção e acompanhamento do dia-a-dia dos seus filhos. É necessário discutir e ampliar o debate nas reuniões escolares. Porque a escola se torna o palco desta violência? Devemos nos interrogar sobre isso.

A violência é o sintoma social de nossa época. E esforços não devem ser medidos para o seu tratamento que precisa contar com as diversas esferas do governo, escola, família e sociedade em geral. O que irrompe violentamente não será resolvido com soluções simplistas. Exigirá de todos nós uma ação conjunta e permanente.
#violencianao

Imagem da internet

A perda de um filho é uma experiência avassaladora. Enquanto um filho que perde os pais fica orfão, não há palavra que possa nomear o vazio que fica para os pais diante da perda de um filho.

Embora o amor seja a mais poderosa fonte de prazer, Freud nos disse que “nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor”.

O trabalho de luto transforma a dor inassimilável em dor simbolizada através do tempo e da palavra.

Somente a fala poderá dar contorno à experiência mutiladora que é a perda de um filho.

Imagem: @ohblequi

02/04, Dia Mundial de Conscientização do Autismo

Sinais de que o psiquismo está em sofrimento podem ocorrer em qualquer idade, mesmo em bebês. É possível perceber risco no desenvolvimento com semanas e até mesmo dias de vida.

Estes sinais não concluem um diagnóstico, exige que tenhamos atenção ao bebê e, se necessário, façamos uma intervenção.

O tempo da infância é permeável às intervenções, exatamente pela enorme plasticidade cerebral.

Difundiu-se a ideia de que atrasos de fala, evitamento do olhar, alterações no brincar e maneirismos no comportamento são suficientes para se pensar num autismo. São dados importantes, mas não devem ser levados em conta isoladamente.

Hoje, vemos que o maior sinal de risco é o bebê não se engajar espontaneamente na interação com o outro cuidador, ou seja, não provocar o outro, não chamar sua atenção.

Diagnóstico não é sentença, nem passaporte para um futuro sombrio. É preciso olhar para a criança para além do diagnóstico, enxergá-la como criança, com suas potencialidades e singularidade, com muita vida pela frente.

Imagem: Heitor dos Prazeres, Brasil, 1960.

#autismo #psicanalise #intervencaoprecoce

A complexidade da mulher sempre atraiu poetas, psicanalistas e outros interessados em desvendar seus enigmas.

Não há palavra, não há frase, não tem livro que defina o que é uma mulher. Não há “A mulher” como protótipo de mulher ideal, mas muitas mulheres cada uma com sua singularidade e sua história.

Que neste dia Internacional da Mulher, cada mulher possa reconhecer sua força, orgulhar-se de seu caminho e continuar a viver com a criatividade e ousadia que lhe é tão peculiar!

2023 se anuncia como um ano desafiador em muitos aspectos.

E o meu desejo é que você tenha flexibilidade para percorrer os caminhos. Lembremos que adversidades existem e é preciso força para enfrentá-las.

Desapeguemos de ideais, daqueles que empacam nossa vida e nos paralisa. Procuremos seguir em frente sabendo que recuos são inevitáveis, mas que no dia seguinte pode ser possível dar um passo adiante.

Eu gosto de dizer que cada um de nós tem um elástico que precisa ser esticado a cada novo desafio enfrentado. Estiquemos este elástico o quanto pudermos, cada dia um pouquinho mais e, se for muito difícil continuar esticando-o, afrouxe-o para tomar um fôlego.

Também prefiro pensar que temos em nossa mão uma marretinha que pode ser utilizada para quebrar as barreiras. Um dia quebramos mais e em outros menos, mas que nunca deixemos de quebrar um pouquinho.

Vida perfeita só existe no Instagram. A vida real é dura, a felicidade é feita de momentos pontuais, mas é preciso acreditar que é possível viver bem e desfrutar desta passagem que pode ser única aqui na terra, porque o que vem depois é incontrolável, enigmático e do nosso total desconhecimento.

Empenhe-se, seja criativo, acredite, deseje, se movimente e faça do seu 2023 um ano bom para você! A mudança que desejamos não vem do outro, vem de nós mesmos!

Imagem: Italico Brass. Itália.

Faço dois cursos de Clínica de Bebês com colegas do Brasil e da França. Ontem um deles entrou em recesso e retornará às discussões em março.

É interessante ver o quanto a França está a frente do Brasil nas questões de saúde mental. O quanto os profissionais de saúde estão melhor formados que os nossos para lidar com o sofrimento psíquico e identificar situações de vulnerabilidade mental.

No que se refere a intervenção com bebês, isto é de extrema importância. É necessário intervir o quanto antes. Aproveitar da plasticidade cerebral antes que as áreas cerebrais se enrijeçam e respondam mais lentamente aos estímulos.

Escuto com certa frequência relatos de bebês que não estão bem. Que não dormem ou não se alimentam direito, não olham, balbuciam e não estabelecem contato social. Cujo desenvolvimento cognitivo ou motor está atrasado. Pais ou familiares aflitos que percebem que algo não vai bem e são orientados a esperar mais alguns meses.

No trabalho com bebês, dias são preciosos, o que dirá meses. Um bebê que não está bem psiquicamente terá repercussões em seu desenvolvimento físico. Um bebê que sente dores físicas pode se deprimir e comprometer seu desenvolvimento psíquico. Se o bebê não consegue falar, é com o corpo que ele expressa seu mal-estar, com sinais que podem ser barulhentos e incomodar a todos, mas com sinais que podem ser silenciosos e pouco valorizados pelo entorno.

Ressalto que sofrimento psíquico não é sinônimo de autismo, mas, muitas vezes, crianças autistas já davam sinais de que seu comportamento não estava bem ainda quando eram bebês. Crianças que poderiam ter chegado ao consultório de psicologia com meses ou ao final do primeiro ano de vida e chegam com 3, 4 anos de idade perdendo um tempo importante de intervenção.

Meu desejo é que este texto possa chegar às mães, pais e familiares de bebês que percebem algo de errado e não tem sua queixa endossada pelo pediatra ou pelo profissional da primeira infância que se ocupa do bebê. Que esta criança seja avaliada o quanto antes por profissionais da psicologia que trabalhem com constituição psíquica e intervenção a tempo. É preciso escutar os bebês.

Imagem: William-Adolphe Bouguereau. França.

Recebo com muito pesar a notícia do falecimento da minha querida professora Tereza Souza, conhecida também como Dona Garotinha!

Quem não tem uma história para contar do convívio com Dona Tereza? Eu tenho algumas.

Dos 11 aos 14 anos, fui sua aluna. Ela me ensinou a arte dos bordados. Ponto de cruz, ponto xadrez, tricot, crochet. Adolescente, eu não entendia muito o porque de aprender aquele trabalho que eu via minha avó fazer.

Foi o tempo e os acasos da vida que me mostraram como eu iria me servir deste aprendizado em minha profissão.

Há cerca de 17 anos, recebi em meu consultório uma paciente de 45 anos que não falava há alguns meses. Já havia passado por fonoaudiólogos e nenhum problema havia sido constatado em seu aparelho fonador. A suspeita era uma mudez psicológica.

Com um bebê e uma criança que ainda não falam, eu saberia usar os recursos do brincar. E com um adulto? De que modo eu entraria em seu mundo se ela não falava? Pouco a pouco, descobri que esta mulher se interessava pelo bordado.

Durante longos 10 meses, bordamos juntas e em cada ponto que fazíamos, construíamos um vínculo transferencial. Cada ponto também era uma elaboração de perdas, de traumas e, exatamente no dia do meu aniversário, esta paciente pode recobrar sua fala, se permitir voltar a falar, para alegria dos seus familiares.

Já apresentei este caso aqui no Brasil e na França. Um caso desafiador que me ensinou a criar, inventar e lembrar como cada paciente é único e deve ser tratado em sua singularidade.

Muitos anos depois, com meus filhos estudando no CEMNAS, escola em que Dona Tereza era vice-diretora, tive a oportunidade de agradecê-la por este ensinamento.

Escrevo este relato com lágrimas nos olhos, mas com alegria pela vida longeva que ela teve e por ter usufruido de sua amizade!

Obrigada, Dona Tereza!

Imagem ilustrativa

Enquanto aguardo o paciente chegar, me debruço sobre o livro Terapia por afinidade - novas pesquisas sobre o autismo (tradução livre do francês), ainda sem versão para o português.

Deveria ser um livro obrigatório, principalmente na cabeceira dos educadores.

É um livro sobre autismo, mas que permite estender a leitura para todos aqueles que não se “adequam”, se encaixam nos padrões de aprendizagem exigidos pelas instituições de ensino.

É um livro que todos os pais deveriam ler para se sentirem acalentados ante às exigências sociais e educativas.

Todo final de ano a queixa se repete. Crianças, em sua maioria, mas também adolescentes, que por diversos motivos não alcançaram “sucesso” escolar.

Ano após ano, raciocínio é o mesmo. Sucesso escolar é igual a bom desempenho, bom desempenho é igual a notas acima da média.

Não há um olhar sequer para a subjetividade daquele aluno, nem para suas potencialidades. Não há uma análise sequer da sua evolução, sempre comparada à dos demais colegas.

Diante do fracasso, a recomendação é o protocolo de sempre: medicalizar, terapeutizar a criança e rotulá-la num diagnóstico. A criança de hoje é a criança do transtorno e da patologia. É a criança assessorada por uma equipe multiprofissional. É a criança que precisa estar submetida a um método adaptativo.

As práticas inclusivas são conversa para boi dormir. As práticas são cada vez mais exclusivas. E o que se planta hoje, colhe-se no futuro. Frente as exigências de desempenho e competitividade, surgem as inibições, sintomas e angústia, tão bem descritas por Freud há um século.

Não estamos preparados para lidar com o que desafia os padrões. E com isto, crianças e pais sofrem. E a instituição de ensino que poderia fazer a diferença acolhendo a diferença, nega-a propondo um método para todos e se eximindo de sua parcela no dito fracasso escolar. A escola precisa abrir portas e não fechá-las.

Imagem: Jean Stean. O mestre-escola. 1663-1665. Irlanda.

#psicanalise
#fracassoescolar
#freud
#lacan

02/11 é aquele dia que nos confronta à finitude da vida. Daqueles que se foram, da nossa própria…

A falta de representação da morte em nosso inconsciente (não há traços dela em nosso psiquismo pelo simples fato de não podermos testemunhar a nossa própria experiência de morte), a torna inacessível, enigmática e, por isso mesmo, fonte de angústia.

Um fato é certo, a morte está para todos! Porém, dado aos mecanismos de defesa psíquicos, vivemos como se dela estivéssemos muito distantes, condição necessária para que desfrutemos da vida.

No entanto, situações em que o outro perde a vida nos coloca em linha direta com nossa própria finitude.

Desde tempos imemoriais, busca-se postergar o fim. Da fonte da juventude aos diversos procedimentos médico e estéticos, o desejo subjacente é apagar a doença, o envelhecimento e viver eternamente.

Se não há saúde que garanta vida, também não há doença que garanta a morte. Não há data, não se sabe quando. Quem demonstra estar saudável pode desaparecer repentinamente. Quem está terminal pode subverter todas as previsões da medicina.

Neste dia 02/11, apostemos que falar e lembrar traga alento e apazigue o sofrimento pelos que se foram. E, exatamente por isso, valorizemos mais a vida e dela desfrutemos pois, do futuro, apesar dos lampejos de esperança que nos sustentam, nada sabemos.

Imagem: Amendoeiras em flor (1890). Vicent Van Gogh. França.

Educar, governar e psicanalisar são ofícios impossíveis, como nos disse Freud.

No ato de aprender, está em jogo para o aprendiz um intricado movimento psíquico de transformação e canalização das pulsões. É preciso sublimá-las e direcioná-las para o saber.

Educar através de uma pedagogia coercitiva e de engessamento, com o intuito de moldar as pulsões é ineficaz e só tende ao fracasso.

O professor que conhece a potência do seu papel perante o aluno é aquele que acompanha e dá suporte a aprendizagem permitindo, por sua vez, que a criança brinque, fantasie, se movimente, pergunte e questione, sem pular ou antecipar etapas.

E este papel poderoso só se desenvolve se no seu interior está presente a transferência, do professor para com seu ofício e com seu aluno e deste com seu mestre. É a transferência o motor, a força do aprendizado, aquela que desperta o desejo de saber e de aprender.

À todos os professores mas, em especial, aos que passaram pela minha vida e aos que estão presentes na vida dos meus filhos, desejo um feliz dia!

Imagem da internet.

A campanha do setembro amarelo para além de informações acerca do suicídio, nos mostra a importância dos cuidados com a saúde mental e nos põe a refletir sobre como estamos cuidando da nossa.

Interpretada como frescura, chilique e falta de Deus, as doenças mentais não são levadas a sério e ainda carregam tabus e preconceitos, de modo que muitas pessoas se envergonham em procurar por ajuda profissional.

Necessário então sair do silêncio, trazer este assunto à tona e falar sobre ele. Numa sociedade que cobra sucesso e felicidade, que vive de excessos reforçada, ainda por cima, pelos imperativos das redes sociais, não é fácil manter a sanidade.

As estatísticas mostram que cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem de depressão e 20 milhões de ansiedade. Dados alarmantes que conjugam com a falta de centros de tratamento sérios e que possam ofertar atendimento com a periodicidade devida. Também neste contexto, temos um contigente cada vez maior de profissionais psi que carecem da falta de formação para prestarem bons atendimentos.

Se há contingências da vida que nos supreendem e das quais não temos controle, outras situações estão ao nosso alcance e, muitas vezes, só depende da nossa escolha para serem resolvidas.

Muito além da comida, é importante refletirmos sobre o que tem nos alimentado, o que temos escolhido e como regamos estas escolhas. Muitas vezes, a mudança que você deseja está na direção que você não toma.

Se vitimizar-se não resolve, refletir e propor mudanças pode ser uma saída para uma vida melhor. Contudo, feito tudo o que está ao alcance, o sofrimento ainda persistir… procurar por ajuda profissional não é luxo, é investimento em si para viver bem a nossa passagem pela vida!

#saudemental
#setembroamarelo
#psicanalise

Nesta sexta-feira, estarei com os colaboradores da @xilolite.sa para uma conversa sobre os cuidados com a nossa saúde mental!

#setembroamarelo.

A psicologia não foi minha primeira escolha profissional. Minha vontade era ser engenheira. Entusiasmada pela matéria de química, que eu era excelente no ensino médio, deixei de lado as minhas preferências antigas, de infância, como gostar de ouvir histórias e de conhecer as origens.

Mas eu encontrei a psicologia, em algum momento, no ano de 1999. O contato com a psicanálise se deu alguns semestres depois, foi através da psicologia que as portas da psicanálise se abriram para mim e nunca mais desfiz este laço.

27 de agosto, dia do psicólogo, desejo um feliz dia aos colegas que se comprometem diariamente com a profissão, sabendo que esta se exerce não só através dos atendimentos, mas também da própria análise ou terapia pessoal, supervisão e formação continuada (tripé básico para atuação). Só assim, poderemos oferecer uma escuta atenta, precisa e de qualidade aos nossos pacientes, sem que nosso EU e nossas próprias convicções interfiram nos atendimentos.

Depojar-se de si, de nossos gostos, preferências e escolhas para oferecer uma escuta mais imparcial possível é condição principal do trabalho psicológico.

Aos colegas, não subestimem este tripé fundamental para nossa prática! Sejam éticos, sérios e comprometidos. Estejam advertidos que, em tempo de redes sociais e frases de efeito, de vídeos e imagens espetaculares e de muitos seguidores e curtidas, é nos bastidores que o trabalho psíquico caminha!

Imagem da internet.

#diadopsicologo

Para os pais, é difícil lidar com a rigidez de comportamento das crianças autistas. O apego em demasia a um objeto, a ritualidade no seu manuseio enfileirando-os, por exemplo, o interesse por brinquedos mecanizados que veiculam sons artificiais ou estrangeiros.

Erroneamente, a atitude do cuidador, da escola e de muitos profissionais psi é orientar o sumiço de tais objetos, sem se darem
conta de que são eles que tornam seguro o mundo da criança autista e sua ausência é percebida como um aniquilamento do EU, já que esta sente estes objetos parte dela própria.

A psicanálise trabalha a partir do sujeito e de suas manifestações. É isto, inclusive, que faz com que não haja protocolo ou solução pronta, parte-se do caso a caso e da singularidade de cada um. É um trabalho artesanal, sob medida, colocando-se à escuta do que cada um tem a dizer. Entendendo dizer como algo que vai muito além das palavras emitidas.

As ”estratégias” da criança autista, suas repetições e rituais, suas estereotipias, as ecolalias e os interesses específicos, que incomodam o cuidador é seu mecanismo de defesa ante a invasão do mundo exterior. É uma maneira de torná-lo estável e previsível.

O autista é particularmente sensível ao mundo, determinados ruídos, cheiros, gostos, luminosidades e toques podem ser verdadeiramente perturbadores e desconcertantes.

No nossa intervenção clínica, levamos em consideração suas afinidades, suas ilhas de competência, estamos igualmente atentos à escuta de suas ecolalias, não só respeitando estes comportamentos como nos apoiando na possibilidade de serem uma ponte para nossa aproximação e uma abertura em direção à sua subjetividade.

Trabalhamos com e a partir do sujeito, cuidando para que nossa própria presença não seja invasiva, tomando todas as suas manifestações como elemento condutor do trabalho analítico apostando que esta criança consiga encontrar seu lugar no mundo, seu estilo, que o torne, ao mesmo tempo diferente e semelhante ao outro, preservando sua singularidade.

Trabalho cuidadoso que requer sempre muita ética, estudo e formação profissional.

Imagem: Iris Grace aos 5 anos. Pintora, com diagnóstico de autismo. Inglaterra.

De todos os sintomas físicos e psíquicos pós pandemia que tenho acompanhado, o que mais tem me preocupado é o atraso de fala em crianças pequenas.

Temos aí um contigente de crianças que não verbaliza uma palavra sequer, mesmo prestes a completar seu terceiro ano de vida. É importante lembrar que, aos 3 anos, é esperado que a criança já construa frases.

Não falar pode significar a ponta de um iceberg em que, provavelmente, diversos marcos do desenvolvimento anteriores à sua aquisição não foram atingidos, inclusive os de interação social.

Sob o jugo de que “cada criança tem um tempo", frase confortável para muitas famílias, perdemos um tempo precioso de intervenção, visto que há um período de maior plasticidade cerebral.

O objetivo deste texto não é a emissão de um diagnóstico, imprudente se baseado num único sintoma. Mas alertar que o atraso de fala pode sim ser um indicador de risco de desenvolvimento psíquico e de que algo não vai bem com o bebê/criança.

Precisamos o quanto antes procurar um profissional especialista em intervenção precoce. Alguém com experiência no atendimento à primeira infância, com bebês e crianças pequenas. Falar não é treinamento. Falar está relacionado à capacidade de interagir, de se endereçar, se relacionar e trocar com o outro. O seu atraso pode significar um comprometimento neste campo.

Cuidemos para não perder esta janela de tempo preciosa, período em que o cérebro está mais propício e melhor responde às intervenções. Se o comportamento do seu filho lhe angústia, procure um profissional de confiança para que seja feita uma avaliação.

Imagem: Agathe Hostel. Alemanha.

Em psicanálise, o pai é uma função. O que significa que ultrapassa o campo da anatomia e da genética. Qualquer pessoa pode exercer a função paterna sem, necessariamente, ser o genitor. A função paterna representa uma operação fundamental para o desenvolvimento psíquico da criança, pois é justamente aquela que age como um terceiro na relação mãe-bebê.

Se a função materna é condição de sustentação do narcisismo do bebê, a função paterna deve advir, num determinado momento, para romper com esta simbiose, apresentando o mundo à criança e lembrando à mãe que o seu mundo não deve circunscrever ao filho, precisando interessar-se para além dele, não se completando nesta díade.

Do corpo no corpo (gestação) passando pelo corpo à corpo (amamentação) até chegar ao corpo autônomo, este é o papel da função paterna, de propiciar autonomia e independência à prole, inclusive, precisando também estar presente na mãe para que ela possa, a cada etapa, adaptar-se a um novo modo de relação, e permitir que seu filho cresça e ande com suas próprias pernas.

Para além de questões jurídicas e financeiras, que possuem sua importância, o exercício da função paterna é essencial para a formação do sujeito. Ela comparece no “não" que se profere, no limite que se dá a todo impulso da criança querer ter tudo e também é um freio à mãe para que ela não coloque a criança numa redoma e viva exclusivamente em função desta.

Parece fácil e óbvio exercer esta função, mas não é tão simples assim. A todos que se empenham para isto, desejo um feliz dia!

Imagem: Pai e filho em Skagen. Michael Ancher. Pintor dinamarquês (1849-1927).

Escrever é um ato solitário! Assim também é a escrita de uma tese, apesar da presença do orientador.

Foram 4 anos… sem saber o que eram férias, feriados e finais de semana. 4 anos dedicados a escrever este trabalho, apresentar um ponto de vista e defendê-lo frente a uma banca de renome. Foram muitas as renúncias neste período!

Hoje completo 10 anos da minha defesa do doutorado e sou grata pelas muitas portas que se abriram a partir dele. Não há ganhos sem perdas. Para conquistar algo é preciso deixar muito para trás.

Às vezes, temos a impressão de que a grama do outro sempre foi verde. Mas, lá nos bastidores, ninguém vê que para esta grama crescer foi necessário cuidá-la, regá-la, disponibilizá-la tempo e amor.

Por isso, o dia do Bom Jesus sempre é um dia saudoso porque rememoro cada passo dado neste percurso de pesquisa, as viagens quinzenais ao Rio de Janeiro, as amizades construídas e a importância do estudo contínuo, da dedicação e comprometimento na minha profissão.

Imagens realizadas pós defesa.

Por acaso tive acesso na internet à uma entrevista com o ex-marido e a mãe da cantora Marília Medonça.

Nesta, relatavam quão difícil fora contar ao filho de Marília sobre a perda da mãe. Levaram algumas semanas justificando-lhe que ela estava trabalhando. O garotinho insistia em ir até o quarto dela, batia na porta recebendo sempre a mesma resposta, até perceberem que ele urinava excessivamente, o levaram ao médico e receberam o diagnostico de diabetes emocional. Algum tempo depois do uso de medicamentos e de tomar conhecimento da morte da mãe, o quadro de diabetes estava resolvido e ficou constatado que foi transitório.

Evidente que a omissão da notícia teve as melhores intenções, poupar a criança do sofrimento, enquanto preparava a família para falar sobre o assunto.

É muito comum subestimarmos a percepção infantil. Pensamos que ela só se dá conta de situações difíceis se forem ditas, sem atermos ao fato que nossa expressão facial, nossa postura e gestos comunicam, às vezes, muito mais do que as nossas próprias palavras. O silêncio, muito mais do que o acontecimento em si, é o maior causador de sofrimento.

Françoise Dolto, pediatra e psicanalista francesa, já advertia, desde os anos 50, sobre a importância de contar a verdade à criança. Em seu trabalho com bebês e crianças, ela insistia no fato delas estarem a par de acontecimentos familiares e inúmeros foram seus relatos de casos sobre o desaparecimento de sintomas físicos e psíquicos após o bebê e/ou criança estar a par de situações que, de alguma forma, lhe diziam respeito.

Hoje, já é algo dado, a necessidade de conversar com os bebês e as crianças sobre adoecimentos, mortes, separações, adoções e diversos acontecimentos que estejam diretamente relacionados à ela ou com quem ela convive. Se ela não entende claramente a notícia, o tom de voz, a entonação e melodia das palavras dos seus cuidadores acalenta, apazigua a dor e o vazio da criança.

Françoise Dolto nos deixou uma extensa e preciosa obra de uma vida dedicada a causa das crianças. Perpetuamos seus ensinamentos dando à criança um lugar de sujeito, oferecendo-lhe uma escuta atenta e acolhendo sua dor.

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Hoje, 26 de julho, comemora-se o dia de Sant’Anna, mãe de Maria, avó de Jesus. Data escolhida para celebrar o dia dos avós!

Revivo na relação que meus filhos estabelecem com seus avós, lembranças do tempo que convivi com os meus.

Perto ou longe foram fundamentais em minha formação e suas vidas fizeram muita diferença na minha.

Era uma época em que não havia smartphones, então quando visitávamos os avós, sentávamos na beira do sofá e ouvíamos suas histórias. Histórias antigas, de um passado distante, de lutas e dificuldades.

Histórias que eu adorava ouvir e pedia que repetissem pois, à cada narrativa, um novo fragmento era incluído. Dos meus avós herdei o paladar apurado para o doce, a curiosidade e o desejo de saber, a vontade de viajar e conhecer o mundo.

Os avós mostram aos netos que a nossa descendência não começa com os nossos pais, é extensa e anterior à eles, nessa longa rede e árvore da vida chamada genealogia.

Talvez, pelo saudosismo que a data me evoca e, como forma de homenageá-los, a minha filha do meio chama-se Hannah. Anna em hebraico, para nos lembrar de Sant’Anna, avó de Jesus e, como extensão, de nossos próprios avós.

Feliz dia a todos os vovôs e vovós!

Imagem: Gaetano Bellei. Itália.

Estive ontem com os pais e equipe escolar do @cemnas_coc conversando sobre Os cuidados com a saúde mental pós pandemia e isolamento social - um diálogo família e escola. Agradeço pelo convite de poder compartilhar meus estudos, prática e reflexões acerca deste tema tão importante.

Conheci a obra do obstetra francês Frédérick Leboyer em 2017, quando iniciei uma pós em Perinatalidade e Parentalidade pelo Instituto Gerar.

Na época, como recomendação do curso, eu deveria fazer um estágio numa sala de parto observando as gestantes que iam dar à luz. Até então, eu não entendia a importância do psicólogo no momento do parto. Ainda assim, eu fui.

Fiz o estágio no Instituto de Perinatalidade da Bahia, IPERBA, em Salvador, onde pude acompanhar gestantes em trabalho de parto natural. A minha presença enquanto psicóloga causou desconforto na equipe. Afinal, o que uma psicóloga faria ali? Mas, naquela hora, percebi a importância da minha presença.

No momento do parto, medo, aflições são externados, independente se esta experiência (de parir) já havia sido vivenciada ou não pela mulher.

Algumas pediam simplesmente que desse a mão. Outras, em meio as contrações, traziam preocupações com o parto e o futuro. Para algumas, o olhar de acolhimento bastava.

E agora, neste momento, Frédérick Leboyer retorna com seus ensinamentos sobre a delicadeza que deve ser o nascimento para a mãe e o bebê. Ele fala de acolhimento e da importância do momento em que o bebê vem ao mundo. A cada aniversário da criança passa um filme na cabeça da mãe.

Hoje, tenho notícias de que a mulher vítima do estupro ainda desconhece o ocorrido. Torço para que ela tenha acolhimento de profissionais e que consiga elaborar (na medida do possível) este momento tão especial que é colocar um filho no mundo. Se estes profissionais passaram pelos livros de Leboyer ela será certamente acolhida porque ele mais do nunca soube falar da importância do nascimento sem violência. Que esta mãe e seu bebê consigam seguir a despeito desta marca.

Imagem 1: Amanda Greavette (Canadá).

Imagem 2: Alguns livros de Frédérick Leboyer

#frederickleboyer

A gente tenta encontrar palavras que possam recobrir a sordidez do ato. É em vão. É estarrecedor o comportamento do médico anestesista. Assusta, inclusive, a delegada acostumada a lidar com crimes e violências.

Desde que o mundo é mundo é difícil ser mulher. A história relata apedrejamentos, mortes na fogueira, enforcamentos em praça pública.

Nas últimas semanas então, não há um dia sequer de sossego. A atriz Klara Castanho expôs publicamente seu sofrimento após ser vítima de estupro e de uma gravidez indesejada.

A violência não vêm somente do maníaco que circula pela rua ou do playboy que se acha poderoso. A violência vem daqueles a quem confiamos a nossa saúde. É porque sempre houve um silêncio coletivo, um acobertamento. Agora, ele insiste em se romper. Porque não há mais justificativas. Não é a roupa curta, não é o jeito de andar.

Os acontecimentos das últimas semanas trazem algumas reflexões:

- Psicopatas existem, circulam entre nós, e não há tratamento psíquico possível para estes casos.

- É preciso, urgente, repensar como andam as formações profissionais, porque este ”médico” não deveria sequer ter se formado.

- Precisamos diariamente conversar com os nossos filhos sobre os cuidados com o corpo. Para as meninas, que saibam se proteger, que não se calem diante de abusos. Para os meninos, que não perpetuem e banalizem comportamentos de violência, que saibam respeitar o corpo alheio.

É evidente que não temos controle sobre tudo e nossa proteção por melhor que seja, falha. Aí entra a palavra, que precisa circular, romper o silêncio e denunciar. Não devemos nos calar!

Imagem: Retratos da Morte. Graça Craidy. Rio Grande do Sul.

Quando fui morar em Salvador, Brumado era uma cidade desconhecida para a maioria dos meus colegas. Você é de Gramado? Me perguntavam. E lá ia eu explicar onde era BRUmado.

Próximo à Vitória da Conquista, era minha resposta. O s ao pronunciar Conquista soava estranho ao soteropolitano, acostumado a falar um s como os cariocas.

Brumado é aquela cidade distante de qualquer capital. Onde o vento faz a curva, é comum falarem.

Para alguns é a cidade da chikungunya e do covid. Isso até virou notícia!

Brumado também é a cidade que exporta. Exporta suas riquezas minerais. Vocês sabiam que há pedras extraídas destas serras expostas em museus da Europa, sobretudo na França? Pois bem! Eu já vi algumas.

Brumado também exporta talentos. Modelos, jogadores de futebol, artistas, doutores, gente estudada e gente humilde… que dá duro em busca do melhor e leva o nome da cidade mundo afora!

Para o brumadense, Brumado é aquela cidadezinha da infância, com cheiro de interior, com rostos conhecidos, com gosto de aconchego e de boas lembranças.

E eu não poderia deixar de homenagear a minha cidade querida pelos seus 145 anos de emancipação política. Parabéns, Brumado!

Imagem de minha autoria.

Parte 2

A ansiedade que já era vista como mal do século, torna-se o sintoma de uma época caracterizada pela urgência. Os eventos parecem desproporcionais e desconectados, é possível trabalhar e estudar ao mesmo tempo, fazer reuniões com quem está a milhares de quilômetros de distância. Diante de tantos acontecimentos fica difícil buscar uma compreensão lógica para os fenômenos.

É imperativo diante do cenário descrito, que os sujeitos saibam cada vez mais lidar com suas emoções. Isto é urgente e deveria estar na grade curricular das escolas desde a educação infantil.

Hoje, temos cada vez mais pessoas demitidas dos seus trabalhos ou mesmo alunos advertidos em escolas não por questões técnicas/cognitivas, mas por ausência de habilidades socio-emocionais.

Diante das complexas respostas do humano aos múltiplos fenômenos, precisamos, mais do que nunca, de um ensino que contemple mais bússola e menos cronômetro. Para além do ensino on-line, um ensino “on life“.

Como lidar com situações imprevisíveis? Como sobreviver às incertezas de nossa época? Quais as habilidades socio-emocionais necessárias no enfrentamento das complexidades? É o desafio de todos nós, seres humanos e profissionais da saúde mental.

Imagem: Internet.

Parte 1

Acontecimentos dramáticos mudam a história do mundo e impactam as pessoas de uma época.

A 2ª guerra mundial e o pós guerra trouxeram verdadeiras revoluções na sociedade. O mundo que se inaugura no final da guerra fria apelidado de mundo VUCA descreve as transformações que a sociedade passava e como as pessoas deveriam agir diante delas.

A sigla VUCA, seguindo as iniciais em inglês, descreve um mundo volátil (volatile), incerto (uncertain), complexo (complex) e ambíguo (ambiguos). Estas características nortearam a sociedade desde o início dos anos 1990 até o final de 2019 intensificadas também pelo surgimento da internet e ascensão de novas tecnologias.

Diante da imprevisibilidade do futuro, as pessoas precisaram se tornar mais maleáveis e flexíveis. Porém, é da essência humana, poupar energia. Os seres humanos buscam gastar o mínimo de energia possível, é mais seguro e protetor ao psiquismo.

Final de 2019, com as notícias provenientes da China acerca do surgimento de um vírus letal e de rápido contágio, a pandemia cria um verdadeiro divisor de águas na sociedade. Ninguém acreditava que uma pandemia de proporções globais pudesse mudar os rumos da história. Surge daí o mundo BANI, muito mais imprevisível e exigindo um enorme gasto de energia mental.

Do inglês, a sigla significa frágil (brittle), ansioso (anxious), não-linear (nonlinear) e incompreensível (incomprehensible).

Tudo de concreto mudou do dia para noite. Nos damos conta que estamos expostos a catástrofes que não podem ser previstas revelando a fragilidade humana.

Imagem: Internet

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Minha Trajetória

Me chamo Sabrina Gomes Camargo. Sou Psicóloga. Psicanalista. Membro do Campo Psicanalítico Salvador (BA). Especialista em Teoria da Clínica Psicanalítica pela Universidade Federal da Bahia, UFBA (2005). Mestrado em psicanálise pela Universidade Paris 8, Paris-França (2007). Doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ (2012). Especialista em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas pela PUC-RS (2023). Tenho formação em Psicanálise, Perinatalidade e Parentalidade pelo Instituto Gerar (2017-2022) e em Intervenção Precoce pelo NIIP (2020). Concluí a especialização em Medicina e Psicanálise com Bebês (2025) pela Faculdade Pólis Civitas - PR e iniciei a especialização em Psicologia Escolar e da Educação (2025) pela PUC-RS. Tenho percurso inicial de formação na Abordagem Sensório-Motora de Andre Bullinger (IFAB - França). Participante do Ambulatório do Bebê pelo Instituto Viva Infância. Atuo há mais de 20 anos na clínica psicanalítica, com experiência em avaliação psicológica, consultoria organizacional, gestão de conflitos na área de psicologia organizacional e ministrando palestras no campo organizacional, da saúde mental e da educação. Supervisões sob referencial psicanalítico. Fluente nos idiomas inglês, francês e italiano.

Início: Sobre mim

Formação

Psicóloga. Psicanalista.

Atendimento presencial e online.

Início: Formação

Agosto 1999 - Agosto 2004

Psicóloga - Faculdade Ruy Barbosa, Salvador/BA

Junho 2005 - Junho 2006

Especialista em Teoria da Clínica Psicanalítica - UFBA/BA

Outubro 2006 - Outubro 2007

Mestre em Psicanálise - Universidade Paris 8, França

Agosto 2008 - Agosto 2012

Doutora em Teoria Psicanalítica - UFRJ/RJ

Agosto 2009

Especialista em Psicologia Organizacional - concursos de provas e títulos do Conselho Federal de Psicologia

Março 2017 - Dezembro 2022

Formação em Clínica Psicanalítica da Perinatalidade e Parentalidade - Instituto Gerar, São Paulo/SP

Março - Dezembro de 2020

Formação em Intervenção Precoce - Niip (Núcleo Interdisciplinar de Intervenção Precoce), Salvador/BA

Abril de 2022 - abril 2023

Especialista em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas - PUC/RS

Novembro 2023 - Agosto 2025

Especialista em Medicina e Psicanálise com Bebês - Pólis Civitas, Curitiba/PR.

Dezembro 2023 - Março 2024

Formação em Curso ADOS-2. Instituto Inclusão Eficiente, Curitiba/PR.

Formação em Curso ADI-R. Instituto Inclusão Eficiente, Curitiba/PR.

Abril 2024

Formação em andamento na Abordagem Sensório-Motora de Andre Bullinger. Institut de formation Andre Bullinger, IFAB/França.

Maio 2025

Especializando-se em Psicologia Escolar e da Educação - PUC/RS

Minhas Atividades

Início: Serviços

Clínica Psicanalítica

Atendimento para o público em geral, bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Supervisão

Supervisão individual ou em grupo com referencial psicanalítico.

Palestras e Treinamentos

Ministro palestras e treinamentos no campo organizacional e da educação sobre diversos assuntos combinados previamente.

Seleção de Pessoal

Entrevista e avaliação psicológica para seleção de pessoal.

Assessoria organizacional

Garantir um bom ambiente organizacional dando suporte aos problemas internos promovendo confiança e o engajamento de todos. O resultado é a melhora no clima organizacional, redução da rotatividade e aumento do bem-estar e da produtividade do colaborador.

Mediação de Conflitos

Gestão de conflitos através de técnicas de mediação com o intuito de promover um bom ambiente organizacional atuando através de palestras ou intervenções breves, a depender de cada contexto.